quarta-feira, 16 de abril de 2008

Biografia: Dulce Pontes


Nascida no Montijo, nos arredores de Lisboa, do outro lado do rio Tejo, em 1969, a menina Dulce Pontes foi introduzida na tradição do fado por seu tio Carlos Pontes, fadista e amante das corridas de touros. Aos sete anos começa a frequentar o Conservatório Nacional de Música em Lisboa sendo o piano o seu instrumento de eleição. Ali desenvolve a curiosidade sobre a matéria e adquire o hábito da pesquisa e do estudo da música, criando bases para o desenvolvimento de uma sólida carreira como cantora e compositora.


Durante a adolescência dedica alguns anos à aprendizagem da dança contemporânea, e apesar de desencorajada a seguir uma carreira como bailarina, manteve-se por dois ainda nos caminhos da dança dando aulas na academia de sua primeira professora, Anabela Gameiro. É também nessa época que forma o grupo de rock “Os Percapita” onde ensaia as primeiras vocalizações amadoras. Os primeiros passos profissionais acontecem quando a jovem cantora é escolhida entre várias candidatas, para substituir a actriz principal no elenco do musical “Enfim Sós”, em 1988. Seguem-se participações em programas televisivos, gravações de spots publicitários e apresentações no Casino do Estoril onde Dulce chama a atenção pela qualidade da voz e interpretações apaixonadas do fado, nessa altura uma tradição à qual os jovens cantores davam pouca importância, e de temas de Shirley Bassey. O reconhecimento público tem início no programa televisivo “Regresso ao Passado”.


Em 1991 obtém o oitavo lugar no Festival da Eurovisão, em Roma, com o tema “Lusitana Paixão”. No ano seguinte edita o seu primeiro disco, “Lusitana”. Em 1993, com o disco “Lágrimas”, Dulce Pontes começa a desenhar um percurso próprio onde, e apesar de ter sido por muitas vezes considerada uma possível sucessora de Amália Rodrigues, (a famosa fadista portuguesa falecida a 6 de Outubro de 1999) o fado é apenas um dos componentes. Nesse disco Dulce apresenta o resultado das primeiras pesquisas nas áreas da música popular portuguesa, de raiz africana, árabe e berbere.


A sua interpretação de “Canção do Mar” fez parte da banda sonora da versão internacional da novela brasileira “As Pupilas do Senhor Reitor”, (1994).A mesma interpretação desta canção de Ferrer Trindade foi o tema principal da banda sonora do filme “Primal Fear”, (A Raiz do Medo), (1996) de Gregory Hoblit, interpretado por Richard Gere e Edward Norton, nomeado para o Óscar de melhor actor secundário, sendo que o sucesso do filme trouxe também reconhecimento internacional para a cantora portuguesa.


Foi assim que a voz de Dulce Pontes cruzou o oceano e passou a ser ouvida nos dois hemisférios. A partir de então vem desenvolvendo a sua carreira em muitos outros países, repetindo o feito da Amália Rodrigues, e de certa forma complementando um trabalho retomado também pelos Madredeus, na divulgação da música cantada em língua portuguesa, ajudando a reabrir caminhos para que outros artistas lusitanos viessem a frequentar cenários internancionais.


O jornalista espanhol Maxi De la Peña atribui a Dulce Pontes a proeza de ter conseguido que os jovens voltassem a apropriar-se da tradição do fado. “Dulce provocou um efeito sociológico sem precedentes. Graças a ela os jovens artistas portugueses começaram e redescobrir o fado, produzindo uma fecunda colheita nestes últimos anos.”


Dulce passa a apresentar-se em digressões internacionais percorrendo Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália, EUA, Japão, Brasil. Uma das consequências dessa abertura de mercado é o convite que lhe faz o compositor italiano Ennio Morricone, em 1995, para interpretar o tema “Brisa do Coração” como parte da sua banda sonora para o filme “Sostiene Pereira” (Afirma Pereira) de Roberto Faenza, com Marcello Mastroianni, rodado em Lisboa. Foi nessa ocasião que Ennio Morricone afirmou que gostaria muito de gravar um disco com a cantora.


A paciência activa é uma das virtudes cultivadas por Dulce Pontes. Enquanto a gravação de um CD com Ennio não acontece, lança mais três discos; “A Brisa do Coração”, (1995), “Caminhos” (1996), e “O Primeiro Canto” (1999). Cada um deles foi o resultado das pesquisas e recolhas que a Dulce fez pessoalmente, e em cada um deles ela foi aumentando e diversificando os artistas colaboradores; músicos, compositores, poetas, orquestradores e arranjadores que tem em comum o facto de serem reconhecidamente dos melhores nos seus diferentes géneros e áreas.


Os convites para parcerias e participações em concertos e gravações sucedem-se. Actua ao lado do italiano Andrea Bocelli, do espanhol José Carreras, da cabo-verdiana Cesária Évora, dos brasileiros Caetano Veloso, Daniela Mercury, Simone e Marisa Monte, do gaiteiro galego Carlos Nuñez, dos irlandeses The Chieftains a convite de Paddy Moloney.


O seu álbum “O Primeiro Canto”, distinguido com o Prémio José Afonso em 2000, que distingue todos os anos o álbum que melhor represente a cultura e história portuguesas, é descrito pelo jornalista e escritor português Miguel Sousa Tavares como uma “fantástica viagem, quase antropológica, às " fontes do som". Dulce Pontes e a sua equipe de produção reinventaram, redescobriram, reconstruíram instrumentos musicais caídos em desuso...”


Enquanto isso a parceria com Ennio Morricone vem sendo construída. Em 2001 Dulce Pontes participa no concerto do compositor no Barbican Centre em Londres, interpretando várias das suas mais famosas canções. Trabalham juntos ainda na Arena di Verona, na Accademia Nazionale di Santa Cecília, e na participação da Dulce num dos temas compostos por Ennio para a co-produção Ítalo – Espanhola “La Luz Prodigiosa”, vencedora do 25º Festival Internacional do Filme de Moscovo.


Em 2003, depois desse período de intenso trabalho e desenvolvimento profissional, o convite do maestro Ennio Morricone concretiza-se. Nos estúdios Fórum em Roma, é gravado o disco “Focus”, onde a intérprete dá voz a temas já famosos do compositor, e a alguns temas criados especialmente para ela. O resultado do trabalho foi apresentado em concerto em salas como o Royal Albert Hall em Londres, a Arena di Verona, o Auditorium Parco della Musica em Roma, o Mazda Palace em Milão, e o Internacional Forum Hall em Tóquio.


Em Junho de 2004 a Câmara Municipal de Lisboa convida Dulce Pontes, Ennio Morricone e a orquestra Sinfonietta de Roma a apresentarem esse concerto, que constituiu um dos pontos altos das festas de verão da cidade desse ano. Sobre este projecto Morricone diz: "Creio que este disco é uma das coisas mais importantes que já realizei com uma cantora. Eu sabia que o resultado final seria um sucesso mas não imaginava que toda a experiência seria tão extraordinária…. A qualidade vocal que Dulce exprime neste disco é muito versátil, muito completa e incrivelmente variada no que diz respeito a todos os aspectos do canto".


Ainda em 2004 Dulce Pontes recebe o Prémio Amigo para a Melhor Intérprete Latina da Associação Fonográfica e Videográfica Espanhola, e o Prémio internacional Tenco 2004 dado todos os anos, pelo Club Luigi Tenco de Sanremo, Itália. Dulce ganha o prémio como “operatore culturale”pela recuperação dos testemunhos de José Afonso e Amália Rodrigues, pela sua interpretação sensível e genuína dentro da melhor tradição musical e poética portuguesas, e pela sua colaboração com prestigiados compositores internacionais. Na cerimónia de entrega do prémio Dulce foi apresentada pelo Clube Tenco como “artífice do fado novo”.


A maturidade artística inquestionavelmente atingida apenas a torna mais activa e curiosa. Continua à procura de parcerias pontuais para projectos especiais, como o encontro “Fado, Tango”, onde Dulce Pontes dividiu o palco do Centro Cultural de Belém em Lisboa com o poeta, recitador e historiador argentino Horácio Ferrer, responsável, em parceria com Astor Piazzolla, por revolucionar a tradição do tango argentino. Sobre a interpretação de Dulce da sua canção “Balada para um Loco”, o poeta declarou: “… Ela recriou-o de tal forma que, pela primeira vez, comecei a aprender coisas sobre a minha própria canção. Esta obra é uma confidência e ela soube interpretar o poeta..."


Paralelamente, prepara o seu novo disco, que se chamará “O Coração tem Portas”, e que vem sendo gravado ao vivo a partir de um concerto em digressão internacional onde a artista retoma a sua eterna paixão e uma nova visão sobre a tradição do fado.


E porque a inquietação e a procura são atributos desta artista que está sempre em busca de novas possibilidades de expressão, Dulce Pontes mostrou no Festival Helénico em Atenas, que em 2005 celebrou seu 50º aniversário, o resultado de seu trabalho com o cantor e compositor grego


Fonte: Site Oficial da Dulce

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